Super-Ricos Reduzem Exposição à Bolsa: Entenda as Novas Estratégias de Investimento

Super-Ricos Reduzem Exposição à Bolsa: Entenda as Novas Estratégias de Investimento

21 de fevereiro de 2025

Contexto Econômico e Aversão ao Risco

Os investidores de alta renda, frequentemente chamados de "super-ricos", estão reduzindo drasticamente sua exposição à bolsa de valores brasileira.

Dados da plataforma ComDinheiro-Nelogica, divulgados pelo E-Investidor, apontam que, em dezembro do ano passado, a participação de ações brasileiras nos portfólios dos fundos exclusivos caiu para 4,21%, o menor nível desde dezembro de 2015, quando representavam 4,78%.

Esse movimento reflete um ambiente macroeconômico desafiador, caracterizado por três fatores principais:

  • 📈Ciclo de alta de juros no Brasil, com a taxa Selic atingindo patamares elevados.

  • 🏛️Incertezas políticas e fiscais domésticas, que afetam a percepção de risco dos investidores.

  • 🌍Mudança na política econômica dos Estados Unidos, com a volta de Donald Trump à presidência e medidas protecionistas que impactam o cenário global.

Segundo o Banco Central do Brasil BCB a Selic subiu para 13,25%, e há expectativas de novos aumentos para conter a inflação. Com taxas de juros elevadas, a atratividade da renda fixa cresce, levando investidores a reconsiderar sua alocação de ativos.


Histórico das Alocações: O Declínio da Bolsa e o Crescimento da Renda Fixa

Analisando a evolução da exposição dos fundos exclusivos à bolsa brasileira, percebe-se um declínio expressivo:

  • 🔹2019: 10,1%

  • 🔹2020: 9,12%

  • 🔹2021: 7%

  • 🔹2024: 4,21%

Essa redução coincide com um aumento na alocação em títulos públicos, que subiram para 52,98% da carteira dos fundos exclusivos em 2024, contra 51,84% há uma década. Além disso, um crescimento expressivo na exposição a debêntures foi registrado, passando de 0% para 4,69% entre 2015 e 2024.

De acordo com especialistas do BTG Pactual BTG, esse movimento reflete um comportamento defensivo, impulsionado por preocupações com o desequilíbrio fiscal do Brasil e o impacto do cenário externo sobre os mercados emergentes.


Os Setores Preferidos pelos Super-Ricos

Apesar da saída da bolsa, os investidores que mantêm alguma exposição a ações têm focado em setores considerados mais previsíveis e resilientes. Segundo André Leite, CIO da TAG Investimentos, os setores preferidos incluem:

  • 💧 Saneamento: Empresas com contratos de longo prazo e pouca volatilidade regulatória.

  • ⚡Utilities (energia e gás): Modelos de receita estáveis e reajustes tarifários indexados à inflação.

  • 🏠Imobiliário (shoppings centers): Ativos descontados e com capacidade de repasse inflacionário.

Conforme análise da EQI Research EQI, a busca por setores com maior previsibilidade de receitas é uma forma de mitigar riscos associados ao ciclo econômico doméstico.


O Papel da Renda Fixa e as Projeções para 2025

Para Rodrigo Scussiato, coordenador do MFO da Somma Investimentos, o cenário para 2025 não deve trazer mudanças significativas na estratégia dos fundos exclusivos. A expectativa é que a aversão ao risco continue elevada enquanto não houver medidas concretas para reduzir o déficit fiscal e controlar a inflação.

Na última reunião do Comitê de Política Monetária Copom, a Selic foi elevada para 13,25%, e novas altas estão sendo discutidas. Projeções de diferentes instituições financeiras apontam para cenários distintos:

  • 🏦 BTG Pactual: taxa Selic pode alcançar 15,25% até o final de 2025.

  • 🔎 EQI Research: taxa Selic pode subir para 16,25%, com cortes apenas em 2026.

  • 📝 Boletim Focus (Focus): expectativa de inflação de 5,51% em 2025.

Esse ambiente favorece ativos de renda fixa como Tesouro Direto, debêntures incentivadas e títulos indexados à inflação, que estão sendo cada vez mais incorporados às carteiras dos fundos exclusivos.


Impacto das Mudanças Tributárias e do Regime Come-Cotas

Outro fator relevante que afetou a alocação de ativos foi a implementação do regime come-cotas sobre os fundos exclusivos. A partir de 2024, os rendimentos passaram a ser tributados semestralmente, reduzindo a atratividade desse tipo de estrutura para os super-ricos.

Segundo Marco Bismarchi, sócio da TAG Investimentos, os fundos multimercado tradicionais sofreram uma queda de 25% no patrimônio líquido ao longo do ano. Muitos investidores migraram seus recursos para estruturas menos afetadas pela tributação, como:

  • 📌 Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC)

  • 📌 Fundos de Investimento em Participações (FIP)

  • 📌 Fundos de Ações, que não estão sujeitos ao come-cotas

A Anbima Anbima, destaca que esse movimento levou ao crescimento de novos produtos financeiros voltados a investidores qualificados, especialmente aqueles que buscam otimizar a eficiência tributária de seus portfólios.


Perspectivas Globais e Impacto da Política Econômica dos EUA

A volatilidade do mercado brasileiro também reflete mudanças no cenário internacional. A volta de Donald Trump ao poder trouxe novos desafios econômicos, especialmente no comércio global.

Recentemente, o governo americano anunciou tarifas de importação para produtos chineses, canadenses e mexicanos, o que gerou retaliações por parte desses países. O Federal Reserve (Fed), por sua vez, manteve sua política monetária cautelosa, interrompendo o ciclo de cortes de juros devido ao aumento das tensões comerciais.

O aumento das taxas de juros nos EUA pode impactar negativamente os mercados emergentes, como o Brasil, ao incentivar o fluxo de capitais para ativos americanos considerados mais seguros, como os Treasuries. Segundo um relatório do Goldman Sachs Goldman Sachs, esse movimento pode pressionar o real e dificultar ainda mais a recuperação do mercado acionário brasileiro.


Conclusão

O cenário atual de incerteza econômica, alta dos juros e mudanças tributárias tem levado os super-ricos a buscar maior proteção patrimonial. A alocação de recursos tem sido cada vez mais direcionada para renda fixa, títulos públicos e setores menos suscetíveis a oscilações econômicas.

No entanto, as oportunidades podem surgir conforme o mercado se adapta às novas condições. Investidores atentos às tendências macroeconômicas podem encontrar boas alternativas, seja em ativos defensivos ou em setores específicos que apresentem maior resiliência. A diversificação continua sendo um princípio fundamental para quem busca preservar e expandir seu patrimônio em tempos de incerteza.


Referências